Novo pai

Meu pai nunca foi um pai muito presente, daquele que se envolvia com os filhos, levava pra passear, ia nas reunioes da escola..nao, nada disso. Meu pai foi o tipico pai dos anos 70, aquele que provia e minha mae supria, como uma mae polvo, tudo que se relacionava aos filhos.

Se ficavamos doentes, ela quem cuidava, se iamos viajar, ela que se preocupava em arrumar as malas e ver se precisava comprar algo, se nos machucavamos, era para ela que corriamos chorando, se tinhamos duvida, o conselho vinha dela, e assim foi, a vida inteira, até ela falecer no ano passado.

Logico que nesses 40 anos, meu pai se acomodou, afinal, minha mae era a super mae e ele dava aquele apoio..tipo, estou aqui se precisar de mim...e só. Quando alguem muito importante de uma familia se vai, no principio fica um buraco onde antes era ocupado por essa pessoa, mas aos poucos, como estou aprendendo na terapia, as pessoas começam a ter que se resignificar, ou seja, assumir novas funções, sair do lugar comum, ocupar o espaço que antes era de outrem (mas sem assumir sua funçao), para que a harmonia volte a fluir no grupo.

Isso nao eh um trabalho facil...alguns fazem isso naturalmente, outros precisam ser cutucados, incentivados e outros nunca o farão, talvez por medo, talvez por comodismo. Mas enfim, meu pai, percebi, faz parte do segundo grupo..eu tive que cutuca-lo, tive que colocar o dedo na cara dele e dizer que ou ele saia do seu lugar comum de total comodismo e assumisse agora seu papel de mentor da familia ou daqui a pouco nao haveria mais familia.

Ele mudou, ainda continua acomodado, esperando o pedido, a cutucada, o incentivo..mas assim que o recebe, ele se mexe, ele age, ele assume seu papel...e aos poucos estou vendo que isso esta começando a acontecer naturalmente, ele esta começando a ser mais proativo em relação a todos da familia.

Ontem, estava com contrações e liguei pro marido me buscar no meu pai para irmos ao hospital. Ao chegar na casa dele e dizer o que estava sentindo, ele na hora se ofereceu pra me levar no hospital (ja que o marido ia demorar), agradeci, mas como nao era nada urgente, resolvi esperar o marido, mas por dentro fiquei feliz com a iniciativa.

E hoje foi o marco: meu pai, pela primeira vez na sua vida, foi ver um ultrassom. Ele nao viu de nenhuma das suas netas e, nao estando minha mae aqui, queria muito que ele fosse num desses exames comigo. Convidei. Primeiro ele recusou, nao entendendo muito bem o que isso significava para mim, qdo disse que se ele nao queria ver a neta dele na tv, que nao teria problema, acho que ai ele percebeu o que ele estaria perdendo e como isso era algo que minha mae faria comigo e topou. Era 7h30 e ele ja estava no laboratorio me esperando, quando eu cheguei.

Ele ficou bobo, deu risada de como a Manuela estava dormindo e ficou aliviado ao saber que sua neta vai ser enorme (deve nascer facil com 4kg), afinal, assim, grandinha, segundo ele, eh mais facil para segurar, rs.

Fiquei muito feliz em te-lo convidado, fiquei feliz que ele foi. Ele esta começando, apos um ano, a se resignificar e a perceber que ele agora eh meu pai e minha mãe, em uma so pessoa. Talvez ele nunca tenha a iniciativa que minha mae sempre teve, mas não tem problema, desde que eu nao espere isso dele, mas saiba pedir, sei que ele estara sempre disponivel para mim e para meus irmaos. Um novo pai está surgindo..aos poucos..mas está ai.